Segunda-feira, 3 de setembro de 2001.
Muitos já disseram que o dia que a taxa primária de juros no Brasil cair abaixo de 10% ao ano ninguém será capaz de deter a decolagem do país rumo ao primeiro mundo. Não é exagero ! Setores como a construção civil, para ficarmos apenas no exemplo mais gritante, teriam um incremento extraordinário se os financiamentos imobiliários de longo prazo pudessem ser feitos a taxas como essas.
As empresas de médio e pequeno porte poderiam financiar seu crescimento e expansão muito mais rapidamente, com financiamentos de capital de giro a essas taxas, e, assim fazendo, provocariam um enorme choque de oferta com redução inflacionaria e maior número de opções aos consumidores. Parcelas importantes da população seriam agregadas ao mercado de consumo e o PIB decolaria.
Mas se é tão bom assim, porque os juros não podem cair no Brasil?
A resposta a essa pergunta continua sendo a mesma de dez ou vinte anos atrás. O setor público continua a desequilibrar o mercado de dinheiro ao absorver sessenta por cento da poupança nacional.
Os governos (em seus três níveis, federal, estadual e municipal) necessitam lançar títulos no mercado financeiro para captar recursos que lhes permitam financiar seus déficits. Assim os governos precisam competir com o setor privado para ficar com esse dinheiro e os agentes financeiros sobem as taxas. Acima de um certo nível, o setor privado não toma empréstimos porque o empresário, em seu instinto de sobrevivência, intui que seu negócio não terá margem suficiente para pagar os custos, mais os juros desse empréstimo e ainda gerar lucro. Acima desse nível só o setor público toma o empréstimo.
O mercado financeiro já percebeu que com juros primários abaixo de 16% ao ano o setor privado da economia começa a se habilitar aos empréstimos em escala maior. (Como a inflação anda na casa dos 6% ao ano, o juro real torna-se igual aos dez por cento do começo deste artigo.) Esse é o nível de equilíbrio da economia hoje. O governo sabe que juros inferiores a esses só com o avanço das privatizações e das reformas estruturais do Estado, principalmente a da Previdência.
Como agravante a isso sabe-se que a insuficiência da poupança interna torna o Brasil dependente de capitais externos que também são atraídos por taxas de juros elevados que compensem o risco de investir no país. Quando crises como a da Argentina surgem no horizonte, esses capitais tendem a fugir e sua permanência acaba sendo assegurada com elevação das taxas como aconteceu recentemente.
Dessa forma, o desejo de maior desenvolvimento somente será conseqüente, se a ele somarmos o firme propósito de vermos evoluir as reformas fiscal e tributária, a reforma previdenciaria e, obviamente, as privatizações.
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