|
Segunda-feira, 10 de novembro de 2003.
O primeiro ano do governo petista de Luís Inácio Lula da Silva pode ser definido como de alívio. Alívio em todos os sentidos, pois o PT no governo não foi muito diferente do PT que produziu a famosa Carta de Ribeirão Preto durante a campanha do ano passado, o que significa que foi bem diferente do PT histórico que os mercados tanto temiam. O PT da área econômica pallocista é muito parecido com o PSDB malanzista e essa é a maior marca produzida neste ano de 2003 o ano I de era Lula. Não que isso seja grande coisa, pois a economia brasileira vem de crescimento pífio tanto nos últimos anos da era FHC como neste primeiro ano petista. O problema é que os constrangimentos gerados pela pesada relação dívida/PIB , somado às taxas de juros estratosféricas impede que se sonhe, por enquanto, com qualquer espetáculo de crescimento.
O que o próprio PT talvez não tenha se apercebido é que a austeridade econômica deste primeiro ano somado ao sensato acordo anunciado com o FMI, começa a produzir um efeito de reversão de expectativas que pode provocar um 2004 bastante promissor em termos de crescimento econômico. Os agentes econômicos operam sobre expectativas e não sobre a realidade, esta que ainda muito preocupante pelo que expressa de fragilidade nas contas nacionais. As expectativas são de que a manutenção do superávit primário nos níveis atuais e a apólice de seguro do acordo com o FMI garantam céu de brigadeiro nos fluxos de pagamentos do próximo ano e início de redução na relação dívida líquida/PIB. Nem é preciso que essa relação chegue a níveis seguros (máximo de 40%), pois apenas a sinalização de que começa a caminhar nessa direção já é suficiente para que os tais agentes econômicos antecipem seus movimentos e operem com esse cenário.
Com o fluxo de pagamentos sob controle e o crescimento do endividamento estancado, o que se pode prever é que de se dará início um ciclo de crescimento sustentado que começará com o aumento dos investimentos produtivos e seguirá com redução dos juros, crescimento do consumo, aumento da produção, geração de emprego e expansão geral da economia. Todas as vezes que isso aconteceu em anos recentes, o movimento não se sustentou, pois o crescimento do mercado interno atraiu a produção, reduzindo as exportações e os saldos comerciais, fragilizando as contas externas, pressionando o câmbio e finalmente, resultando em explosão da bolha de crescimento e retorno à crise. Como evitar a já monótona repetição desse cenário ?
Em primeiro lugar, estimulando os setores exportadores a não entregar o terreno duramente conquistado nos últimos três anos. A expansão do consumo interno deveria ser atendida sem prejuízo das vendas externas e com aumento das capacidades instaladas dos setores estratégicos. Para início de conversa o melhor estímulo para que isso aconteça seria a manutenção de um câmbio mais favorável que o atual para o exportador. Como fazer isso sem produzir inflação? Talvez reduzindo tributos que hoje oneram a produção e possam compensar os repasses do câmbio para os preços. Como fazer isso sem fragilizar as já frágeis contas públicas? Talvez usufruindo compensatoriamente do aumento de arrecadação que o próprio crescimento da atividade econômica sempre produz. Como fazer isso sob pressão feroz da classe política pelo aumento dos gastos, pressão esta que tende a se tornar irresistível sempre que aumentos de arrecadação aparecem? Bem aí é que veremos se Lula é estadista ou populista. Até agora o presidente tem surpreendido a todos os que duvidavam de seu preparo para o cargo, mas será a primeira vez que o veremos tendo que optar entre o espírito de classe e o interesse legítimo da nação.
O certo é que teremos, ao que tudo indica, um 2004 de crescimento econômico garantido. Se tal crescimento será o início de um processo longo ou mais uma bolha passageira igual a tantas que tivemos nos últimos anos, só o futuro e a continuidade do surpreendente bom senso petista é que poderão dizer.
|
|