Home
Comentários
Artigos Selecionados
Marketing
Finanças
Logística
Estratégia
E-mail
 
 
 
O Que Somos Quem Somos Como Podemos Ajudá-lo
  RISCO BRASIL OU RICOS NO BRASIL ?  
 

Quinta-feira, 27 de junho de 2002.

O Brasil passou com competência mas também com enormes dificuldades pela crise russa em 1998. No início do ano seguinte saiu milagrosamente de um errôneo sistema de câmbio fixo com uma habilidade que surpreendeu a todos. No ano passado enfrentou com galhardia o estouro da bolha das bolsas americanas e o abalo que o 11 de setembro provocou nos mercados de todo o mundo. Neste ano descolou-se da Argentina e provou ao mundo que os fundamentos de sua economia são muito mais sólidos que os do vizinho.

Pois bem, mesmo com toda essa competência dos condutores de nossa economia, e num período em que os tigres asiáticos, a Rússia, a Turquia, o Equador, a Venezuela e a Argentina, todos eles sucumbiram, o risco país medido pelas agências de rating sempre avaliaram o Brasil com médias piores do que as de todos esses países.

Se algum banco estrangeiro emprestou ao Brasil nestes últimos três anos, recebeu juros maiores do que de qualquer daqueles países citados. Um negócio da China. Você recebe juros de país que vai quebrar, só que o país não quebra e você embolsa os polpudos lucros referentes ao “risco” que assumiu. Semana passada um operador de Nova Iorque que se desfazera de suas posições no Brasil ironizava: Risco Brasil ? Não, fiquei Rico no Brasil, Rico no Brasil.

O sistema perverso que torna as economias emergentes prisioneiras de um escorchante sistema de drenagem de seus recursos deixa claro que o modelo de financiamento dos gastos públicos existentes nesses países, mormente na América Latina, está esgotado e que sua substituição requer uma profunda modificação cultural e política sem a qual a dependência se agudizará e o empobrecimento se acentuará.

Na Argentina os buracos do orçamento estavam sendo financiados em moeda estrangeira. Quando ficou claro que a capacidade de seguir pagando estava em cheque houve a explosão. Agora ninguém quer financiar o déficit público, nem interna e nem externamente e o caos social se instalou no país. No Brasil o financiamento se dá internamente em reais, mas mesmo depois da capacidade de arrecadação ter subido a estratosféricos 34% do PIB o problema segue sendo grave e avolumam-se os sinais de esgotamento no modelo.

Os agentes poupadores internos querem sinais que o governo não consegue enviar: Capacidade de reformar a previdência e torná-la solvente. Capacidade de reformar o caótico sistema tributário desonerando a produção e taxando a especulação sem reduzir a arrecadação total. Capacidade de reduzir os juros reais sem provocar fuga dos aplicadores. Se o governo atual não foi e não é capaz de avançar nesses pontos, pouco se espera do governo futuro.

No entanto a atual administração brasileira deu mostras de enorme competência em todas as crises anteriores e nada nos autoriza a duvidar que possa enfrentar a atual com o mesmo êxito. As razões para otimismo não são poucas:

1 – As contas do presente ano estão garantidas tanto interna como externamente.

2 – Mesmo para o ano próximo as perspectivas são favoráveis tanto no que concerne à capacidade de pagamento dos vencimentos externos como internos.

3 – Se há um governo capaz de enfrentar a reforma da previdência com maiores chances do que o atual é o próximo seja qual for ele, pois todos os candidatos são de esquerda e a esquerda reforma mais e melhor do que a direita.

4 – Serra ou Lula os dois candidatos favoritos são fortemente compromissados com os setores produtivos industriais o que indica que políticas de desoneração tributária da produção são seguramente esperadas.

5 – A geração de superavits primários elevados já é compromisso público dos dois candidatos citados, bem como a redução dos juros reais.

Os candidatos favoritos não conseguem passar ao eleitor e aos mercados esse otimismo, o que é lamentável, pois as expectativas, certas ou erradas, é que regulam a tendência dos preços na economia.

O Brasil do novo governo deverá ser (até porque não há opções) menos dependente do setor externo no que diz respeito ao financiamento corrente de sua economia. Tal fato, ressalte-se, é, embora alvissareiro do ponto de vista dos mercados, altamente injusto, pois diminui as possibilidades de crescimento do país via financiamento externo, mesmo tendo o Brasil garantido o pagamento de cada centavo de seus compromissos no exterior nos últimos dezesseis anos.


 
 
Índice de artigos Anterior Próximo Home