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  O SONHO AMERICANO  
 

Terça-feira, 9 de outubro de 2001.

Os imigrantes europeus que colonizaram os Estados Unidos, foram para aquela parte da América em busca de oportunidades e de ascensão sócio econômica, por livre iniciativa. Não foi uma colonização planejada pelo Estado como em tantos outros casos. As pessoas se sentiam mal em seus locais de origem por não encontrarem oportunidades verdadeiras, terras disponíveis e possibilidade efetiva de serem os únicos beneficiários de seu próprio esforço.

Hoje, os centenas de milhares de novos imigrantes que continuam indo para lá todos os anos, procuram a mesma coisa, ou seja, os Estados Unidos continuam sendo depois de alguns séculos o lugar do mundo onde as pessoas de livre iniciativa escolhem para prosperar pelo esforço próprio. Vindos do México, da Ásia, da América Latina, do Oriente Médio todos continuam querendo “fazer a América”. Continuam querendo viver o Sonho Americano !

E o que é o Sonho Americano ? É a somatória dos sonhos de todas essas pessoas simples, voluntariosas, pouco intelectualizadas e sem ideologia, que acham que o trabalho duro e o esforço próprio é o melhor, senão o único, caminho para se libertarem da pobreza. Não acreditam no Estado, não esperam e nem pedem ajuda a ninguém e seguem trabalhando duro para vencer.

Essa falta de ideologia e a crença em valores simples são a essência cultural dos Estados Unidos. Assim é seu povo, assim é sua natureza. Não se pode esperar, pois, de um povo assim, que sua diplomacia seja muito sofisticada, que sua compreensão do mundo seja muito ampla e elevada, críticas que muitas vezes se lhes fazem com excesso de rigor. Apesar disso são grandes e apesar disso o mundo clama por sua liderança. E essa é a grande fonte da incompreensão do resto do mundo para com eles. O povo americano não quer liderar o mundo. Eles foram lá para fazer a América não para fazer o mundo. Não há uma ideologia de domínio por mais que as esquerdas mundiais, ainda muito ativas, queiram ver dessa forma. Toda a estratégia militar americana é, basicamente, defensiva. Toda a diplomacia é, mormente nos últimos dez anos, tendente ao isolacionismo.

Na crise do Kosovo resistiram a se envolver até o último minuto. A Europa pedia por sua intervenção, os países Islâmicos exigiam sua intervenção e eles só o fizeram quando a pressão se tornou insuportável. Curioso é, que, quando finalmente intervieram, as críticas não só não diminuíram como ainda aumentaram. (Acertaram civis, erraram alvos fáceis e ainda bombardearam a embaixada chinesa por engano). Bom lembrar que estavam defendendo do extermínio, uma minoria Islâmica (albaneses) por parte de uma maioria cristã (iugoslavos).

Assim, os Estados Unidos ficam no papel anedótico clássico: Apanham se casar com Maria e apanham se não casar com Maria.

O abominável atentado que atingiu covardemente as Twin Towers e o Pentágono não atingirá nenhum objetivo além de provocar a ira do povo estadonidense contra seus autores. Artigos têm sido escritos para tentar explicar o ato abjeto sem se aperceber que ao explicar está se justificando e ao justificar está se tornando cúmplice. Dos cerca de seis mil mortos apenas pouco mais da metade eram cidadãos estadonidenses, sendo que os outros eram estrangeiros que viviam e trabalhavam honestamente pelo pão de cada dia na mais internacional e democrática das cidades do mundo. Atingiram o que os Estados Unidos têm de melhor, a cidade símbolo de hospitalidade, de gente do mundo inteiro que para lá se dirige para trabalhar, sonhar e vencer na vida. Ato covarde, assassino, cruel e absolutamente desnecessário.

Nova Iorque é, talvez, um dos únicos lugares do mundo onde esse sonho ainda seja possível. Porque isso incomoda tanto ? Nova Iorque e o sonho americano não foram construídos por nenhum rei, imperador, clã ou linhagem sagrada. É a história do homem comum do povo que está lá. Um povo sofrido, pobre, trabalhador, vindo de todas as partes do mundo e que trabalhou duro, cresceu, prosperou e fez real e verdadeira a mais bela frase escrita pelo homem moderno: We the people...

As sociedades Islâmicas não pregam a violência. O Corão como a Torá ou a Bíblia pode ser fonte de interpretações que inspirem a violência, mas só se tomado ao pé da letra e com frases pinçadas fora de seu contexto mais amplo. Assim, não há o que justifique o que foi feito seja por inspiração de fanatismo religioso seja por alegadas desigualdades sociais. Neste último caso, até porque os terroristas estavam muito longe de serem pessoas necessitadas e, ao contrário, possuíam sofisticado treinamento e levavam padrão de vida elevado. Trata-se de puro banditismo.

Osama Bin Laden e seus asseclas não conseguem eles próprios explicarem as razões do desatino. Alguns apostam que estão levando a cabo uma guerra santa para destruir o Ocidente e fazer com que o Islã seja imposto a todos os cidadãos do mundo. Não parece razoável que possam crer que o resto do mundo aceite retroagir à idade média. Sim, porque não há um só país islâmico onde eleições livres, liberdade de organização partidária, direitos iguais para a mulher, rotatividade no poder, liberdade de expressão, direito de ir e vir e outros símbolos de democracia e respeito pelas diferenças estejam todos presentes no dia a dia das pessoas. A história do Islã é guerreira. Os russos já saíram do Afeganistão há mais de dez anos e a guerra não parou por lá. São mulçumanos matando mulçumanos. O mesmo se deu na guerra Irã vs Iraque e na Guerra do Golfo quando Sadan Hussein invadiu o Kwait. Os grupos terroristas do Líbano, Arábia Saudita, Argélia e tantos outros não estão guerreando estrangeiros e infiéis, mas sim seus próprios irmãos de fé. Yasser Arafat não faz a paz com Israel por vários motivos, mas todos sabemos que um deles é que não conseguirá governar a nação palestina independente, tamanha a oposição que sofre dos grupos islâmicos mais radicais na própria palestina. O ETA e o IRA grupos terroristas europeus fazem, em escala muito menor, confirmar a regra de que o terrorismo e miséria não andam de mãos dadas e que o fenômeno tem muito mais a ver com mentes criminosas do que com crise social.

Independente da reação armada americana que certamente ocorrerá e que terá por resultado a captura de Laden e a queda do Talibã do poder no Afeganistão a questão que se colocará ao mundo é: Como integrar o Islã ao mundo civilizado ? Como realizar tal tarefa respeitando seus valores, suas crenças, sua cultura milenar, mas ao mesmo tempo trazendo-os ao século XXI de forma pacífica ? Tarefa árdua !

Quem conhece um pouco a rotina de Nova Iorque sabe que nos dias de hoje boa parte dos taxistas da cidade são paquistaneses de imigração recente. Repetem a saga dos italianos de cem anos atrás e dos latino-americanos das décadas de sessenta e setenta e ainda hoje. Essa convivência pacífica de pessoas de diferentes raças, credos, origens e classes é um bom exemplo a ser seguido.

Paradoxalmente, o exemplo a ser seguido está exatamente onde os criminosos centraram seus ataques. Talvez o tenham feito por isso mesmo.

Saulo A. Ignácio

Setembro/2001


 
 
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