Terça-feira, 3 de setembro de 2002.
Quando o Brasil iniciou, ainda no governo Collor, seu processo de abertura econômica, os arautos dos novos tempos enalteciam os enormes ganhos de produtividade que seriam obtidos com as privatizações das grandes estatais, os ganhos fabulosos em termos de desenvolvimento e geração de empregos que adviriam da entrada de setores como eletricidade, telecomunicações e siderurgia na verdadeira economia de mercado etc. etc.
Passada uma década o que se vê é bem diferente: No setor elétrico as estrangeiras que vieram e acreditaram no Brasil se deram mal e já estão saindo, colocando à venda com prejuízos os negócios que compraram. No setor de telecomunicações estão atuando também no vermelho e o setor bate todos os recordes de reclamações nos serviços de proteção ao consumidor. Na siderurgia a pérola da coroa acaba de ser vendida e o centro de decisões passa para Londres. No setor de infra-estrutura pedágios dolarizados viram mote de campanha procurando capitalizar a insatisfação do usuário que não entende como custos em reais podem gerar receitas em dólares com prejuízo a ele usuário.
O que houve ? O que deu errado se os pressupostos eram corretos ?
Primeiramente um erro de avaliação brutal dos que pensaram que a economia brasileira poderia suportar um câmbio artificial como o que vigorou de 1994 a 1999. O capital que veio em dólares quer ser reembolsado em dólares, mas se a receita é em reais desvalorizados isso fica impossível e a conta não fecha, impedindo que as projeções iniciais de lucro se materializem.
Em segundo lugar um fato inevitável, pois as antigas empresas estatais eram famosas pelo empreguismo e, claro, uma vez privatizadas o número de empregados só poderia diminuir e não aumentar. Isso gerou aumento no desemprego e redução no consumo, principalmente após a desvalorização da moeda em 1999. Com o mercado diminuindo de tamanho os planos tiveram que ser refeitos.
Um terceiro fator não menos importante é que o e-business a exemplo do que ocorreu no mundo todo foi uma bolha que explodiu e no caso específico da telefonia muitas projeções de crescimento de mercado eram infladas por essa bolha.
A economia brasileira acabou sendo salva da debacle total por dois setores pouco prestigiados na mídia em geral e de pouco glamour no mundo empresarial: Agribusiness e Pequenas e Médias Empresas (PME'S). Nos últimos quatro anos os dois setores em conjunto responderam por 97% da geração de empregos e 92% do crescimento do PIB, o que significa que os demais setores praticamente não cresceram.
O agribusiness vem se tornando uma verdadeira alavanca exportadora e criadora de riquezas com a produção de grãos batendo seguidos recordes de volume e de produtividade e com perspectivas ainda mais alentadoras, principalmente no setor sucroalcoleiro que pode deslanchar ainda mais com as recentes sinalizações de Alemanha e do Japão de que vão aumentar seu percentual de adição de álcool na gasolina o que abrirá fantásticas oportunidades para o programa brasileiro de álcool e as exportações. No caso nipônico já há movimentação inclusive de investimentos diretos na montagem de unidades produtoras (usinas) no país com o intuito de aumentar a produção para atender as necessidades de consumo dos japoneses.
A produção de soja em solo nacional já coloca o país em posição de forte liderança no quesito preço e qualidade, a tal ponto que, recentemente, um grupo de produtores americanos esteve em visita ao país acenando com a possibilidade de remunerar produtores locais para que não plantassem e assim os preços internacionais do produto pudesse ser mantido nos níveis atuais pelo não aumento da oferta.
As PME'S por seu lado, a despeito de atuarem num ambiente extraordinariamente agressivo, dão mostras de enorme vitalidade e garantem geração de emprego em um volume tal, que funcionam como verdadeiro colchão de amortecimento social. São centenas de milhares de pequenos negócios que prosperam a despeito da carga tributária insana, encargos trabalhistas jurássicos e total falta de crédito junto ao mercado financeiro.
Segundo as teorias de gestão de maior sucesso nos anos recentes, as empresas devem colocar como foco prioritário de sua estratégia os setores que melhor estejam respondendo aos anseios do mercado e, assim, melhor estejam contribuindo para a geração de valor do negócio. Se olharmos o presidente da república como o diretor geral de uma grande empresa chamada Brasil, o foco do país deveria estar direcionado para o agribusiness e as PME'S. Com a palavra os atuais candidatos ao cargo.
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