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  O FATOR CIRO  
 

Quarta-feira, 24 de julho de 2002.

A recente subida do candidato Ciro Gomes nas pesquisas de opinião sobre a eleição presidencial brasileira deveria ser mais preocupante para os mercados do que o foi o crescimento de Lula e sua conseqüente possibilidade de vitória no primeiro turno no mês passado.

Lula e seu neo-esquerdismo não representam o perigo que analistas mais afoitos imaginaram, pois o PT, de há muito, tornou-se revisionista e suas alianças, explícitas ou nem tanto, com figuras como Quércia, Maluf e Itamar, ou sua aliança formal com o PL só fazem confirmar isso.

Ciro Gomes, entretanto, é outra coisa. Primeiro a aliança ampla que seu partido o PSB (antigo PC do B) armou com forças que vão de Brizola à Arraes, passando por Collor em Alagoas, Magalhães na Bahia e partes do PFL (as piores partes diga-se de passagem), se não são nem um pouco menos esdrúxulas que as do PT, mostram importante diferença já que as alianças petistas são fruto de anos e mais anos de experiência política curtida a ferro e fogo que se não enobrecem a alma ensinam a conviver melhor com os contrários e a negociar mais. Já as de Ciro mostram muito mais oportunismo político do que qualquer outra coisa. Em segundo lugar seu próprio passado de destempero e instabilidade continua revelando uma personalidade de difícil trato, o oposto do atual presidente, o que promete uma presidência mais parecida com o tumulto da era Collor do que com os punhos de seda da era FHC. E em terceiro lugar, Ciro tem um programa de ruptura sim, não só com os mercados mas com o sistema todo.

A essência da visão de mundo de Ciro Gomes vem de seu ex professor e mentor intelectual o professor Roberto Mangabeira Unger figura conhecida nos meios intelectuais estadunidenses onde viveu e lecionou durante muitos anos. O professor Unger defende que o Brasil seja o líder mundial de uma nova era. Essa nova realidade mundial seria uma espécie de pós capitalismo considerando que o modelo capitalista hoje hegemônico está em seus estertores e que o comunismo já faliu há muito tempo. Para Unger que acredita piamente no desmoronamento capitalista o diferencial dessa nova era seria um fortalecimento do Estado como direcionador dos investimentos cujos critérios seriam não mais apenas sua taxa de retorno financeiro mas também uma taxa de retorno social. O problema é que os proprietários do dinheiro precisariam ser convencidos de que a taxa de retorno financeiro não seria mais o critério único e, como se pode licitamente supor que não o farão de livre vontade, algum grau de coerção tem que estar embutido na proposta. Essa é em essência a tese do “alongamento” da dívida defendido por Ciro. E isso, claro, é ruptura !

Ciro passa a maior parte do tempo explicando que tudo será voluntário e que não haverá quebra de contratos e, ultimamente, vem dizendo que o alongamento se dará através de oferta de juros maiores para os que aceitarem voluntariamente o alongamento dos prazos. Mas como juros ainda maiores que os atuais se estes que temos hoje certamente quebrarão o Estado em no máximo dois anos ? Não, diz Ciro, primeiro vamos baixar muito os juros atuais e depois vamos oferecer o alongamento à taxas maiores que ainda serão menores que as atuais ?!?!?

Ora, se houvesse como reduzir as taxas atuais sem riscos inflacionários, e reduzi-las muito como diz o candidato, não haveria necessidade de alongamento nenhum, pois as sobras de fluxo de caixa que imediatamente se fariam disponíveis, ofertariam os recursos para os programas de resgate da dívida social que todos os candidatos desejam. O professor Unger e o próprio Ciro sabem muito bem disso e então os mercados possuem motivos para maior preocupação ainda. Mas então porque esses mercados não reagem tão negativamente ao crescimento do ex governador do Ceará ?

Bem, uma das hipóteses é aquela do quanto pior melhor, já que a normalidade não é factível então vamos para o caos porque depois dele as coisas se acertam de novo como sempre na América Latina. Ou talvez porque o mercado financeiro mundial já está estressado demais com as sucessivas explosões de bolhas especulativas nos Estados Unidos para se preocupar com Ciro. Andersen, Enrom, Merck, Bush, WorldCom e as conseqüentes quedas monumentais em Wall Street fazem crer que 2002 pode ser ainda pior que 2001. O Brasil apesar de sua inegável importância no contexto mundial fica um pouco eclipsado pela angústia gerada pelo próprio mercado mundial neste momento. Alguns, poucos é verdade, chegam a prever que a tal crise final do capitalismo finalmente está às portas. Epa ! Crise final ? E se o professor Mangabeira Unger estiver certo ?


 
 
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