Terça-feira, 13 de agosto de 2002.
Depois da crise da América Inc. que provocou e ainda provoca alguns abalos em Wall Street e, por conseqüência, no resto do mundo, surge o perigo de cairmos em algumas falácias dessas que de tempos em tempos surge no ambiente corporativo.
Foi preciso muito tempo para que o ambiente corporativo amadurecesse a idéia de que o principal papel da empresa é gerar valor para o acionista e o acerto dessa filosofia é que propiciou a enorme recuperação da economia americana a partir de meados dos anos oitenta até o ano passado, no maior ciclo de prosperidade jamais visto na história econômica. Quando as coisas são certas, os mercados respondem muito rapidamente e de forma positiva.
Os críticos de sempre situados nas posições de sempre, já começam a murmurar coisas como: Gerar valor também para a comunidade; Gerar valor para o público interno; Gerar valor para o meio ambiente etc. etc. etc. Sempre que as empresas procuraram desviar sua finalidade para outras direções que não o lucro os resultados foram desastrosos para a comunidade na forma de recessão econômica, para o público interno na forma de desemprego e para o meio ambiente na forma de ações predatórias na luta para sobreviver.
As empresas nos Estados Unidos se financiam junto ao mercado de capitais e este busca resultados satisfatórios para suas carteiras de investimentos sob pena de serem abandonados pelos investidores. Tal sistema é justo no sentido que premia aquela entre as empresas que melhor retorna o investimento do cidadão comum, aquele que não segue as modas e só deseja proteger e fazer crescer as economias de toda uma vida de trabalho. Essa é a ética do capitalismo e querer alterá-la sob qualquer pretexto é, não só injusto como perigoso.
Se a ganância doentia de alguns executivos em buscar até pela fraude lucros falsos que só serviam para justificar seus gigantescos bônus foi longe demais, o problema é de controle não de filosofia. De há muito vozes se levantavam para alertar que algo de errado ocorria com balanços que apresentavam crescimentos anuais de vendas de 30%, repetidamente, como se a matemática fora mero exercício pueril. Dava para desconfiar que empresas como a Amazon que nem lucro apresentava pudesse valorizar suas ações em até sessenta vezes em poucos meses. Mas tudo isso é sintoma, não causa.
Um bom organismo de fiscalização e, principalmente, uma lei feroz de punição a atos fraudulentos como os que ocorreram recentemente serão suficientes para manter a sociedade corporativa americana em boa forma sem violentar os pilares que lhe dão sustentação. O Brasil pode ensinar um pouco nessa área como bem demonstra a rigorosa regulamentação sob controle da Comissão de Valores Mobiliários, mas os americanos não têm uma tradição regulamentatória muito forte devido a sua forte tradição libertária e discutem agora como avançar nessa área.
Confundir controle e fiscalização com mudança de estratégia corporativa é imprudência e pode resultar em perda de eficiência econômica, recessão e desemprego, ou seja o contrário do que os arautos dessa mudança preconizam em seus modelos simplistas.
O foco na geração de resultado ao acionista é a única prioridade legítima da empresa. A destinação desse resultado, sua distribuição, sua aplicação e sua tributação sim são assuntos que transcendem à própria empresa e merecem ampla discussão social, mas sempre partindo da premissa de que os maiores interessados serão sempre os detentores das ações sejam pessoas físicas, entidades, fundações, governos ou qualquer outro.
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