Segunda-feira, 3 de setembro de 2001.
A recente ebulição política que domina o cenário midiático brasileiro e que envolve algumas figuras basilares de nosso poder público e prende, ainda, a atenção do cidadão comum nos leva a refletir sobre o papel do Estado e a dificuldade que o brasileiro tem para lidar com os conceitos de ética e cidadania.
A corrupção não é um privilégio dos trópicos como estão constantemente a provar os episódios envolvendo figuras de proa da cena política alemã, francesa, japonesa e tantas outras do chamado primeiro mundo em passado recente.
O que difere no Brasil, é que nos países citados o cidadão tem uma relação mais estável com seu Estado Nacional, no sentido de que se sente "pertencendo" a uma nação de comuns e de que o Estado nada mais é do que a instituição possível de organização dos vários interesses de cada indivíduo. Essa sensação de "pertencimento" é a essência da cidadania que, no Brasil, infelizmente ainda não se desenvolveu. O brasileiro ama seu país mas não seu Estado Nacional. Ao contrário possui notórias dificuldades de relação com ele.
A concepção dos Estados Nacionais é que desenharam o mundo moderno e as instituições como as conhecemos. Nesse modelo, o Estado se organiza para, em última análise, ser o meio de prover pacificamente a distribuição de renda possível aos menos favorecidos e evitar a alternativa da barbárie.
Honoré de Balzac o genial observador dos costumes políticos europeus no século XVIII afirmou com certa ironia que o único papel do Estado é existir para que as elites o roubem e que, assim fazendo, possuíam um bom motivo para defendê-lo e, consequentemente, ao povo. Fácil comprovar certa veracidade à irreverente abordagem balzaquiana, mas aqui em solo tropical não são apenas as elites.
Da gorjeta ao guarda de transito, passando pelo suborno ao fiscal do imposto, o pedágio na repartição para agilizar o trâmite do documento e chegando aos grandes esquemas da lavagem de dinheiro e aos escândalos do TRT, SUDAM, SUDENE etc. etc. etc. , todos parecem se unir nessa autêntica mania nacional que é a de fraudar o Estado.
Nos países mais antigos e desenvolvidos pode se perceber um sentimento de amor à pátria sempre representada por símbolos mas, entre eles, sempre figurando o Estado. No Brasil o amor se dá ao contrário, pelo ódio ao Estado. A Nação se materializa unida e coesa no sentimento de repúdio a seu Estado Nacional e, assim, o sentimento de "pertencimento" se estabelece no amplo e irrestrito ato de roubar e fraudar o Estado, unindo iguais e desiguais. Não percebem que assim agindo estão se roubando algo muito maior: O direito de ser uma Nação.
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