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  UM NOVO MUNDO QUE SURGE  
 

Segunda-feira, 14 de abril de 2003.

A capital de uma país soberano, ilegalmente invadido, está sendo atacada. A mídia do mundo inteiro acompanha atenta a hora da verdade, a mãe de todas as batalhas. Afinal as forças de elite do Iraque se prepararam por meses para esse momento. Não houve grande resistência ao longo da invasão dos objetivos menores, mas a capital não. Bagdá é o símbolo da guerra. Sem a capital os invasores não ganham nada, com a capital ganham tudo.

Previa-se uma luta encarniçada, pois os invasores haveriam de fazer o que mais temiam; a luta corpo a corpo em ambiente urbano, condição que elimina a maioria das vantagens tecnológicas da potência invasora e potencializa a coragem pessoal e patriotismo de cada soldado, fatores em que o Iraque seria, em tese, muito forte. A grande hora chegou!

Pois bem! O que se viu foi um passeio dos invasores, uma festa sem resistência nenhuma, uma consagração midiática de pasmar o mais cético dos espectadores. O que foi feito da guarda republicana de Saddam Hussein? Onde estavam os Feydaimm? Entregaram Bagdá sem resistência? Bush não esperava moleza tão grande com toda a certeza .

Saddam sumiu. Seus exércitos sumiram também como num passe de mágica. Nunca se viu uma coisa dessas na história militar. O desaparecimento de um governo completo e 300.000 soldados. Como pode? Para onde foram? Uma observação mais atenta dos bem nutridos manifestantes que comemoravam a queda do regime e ajudavam os soldados dos invasores a derrubar a mega estátua de Saddam indicam que minutos antes estavam armados e fardados fugindo pelas margens do rio Tigre. Essa mudança repentina de papéis sinaliza claramente os contornos do novo mundo que estamos assistindo nascer. Uma coisa é se opor à potência única na retórica das assembléias das instituições internacionais, outra bem diferente é se opor a seus tanques, mísseis e armas inteligentes.

Em onze de setembro de 2001, a maior parte do planeta comemorava a tragédia maior da história da potência única. Enquanto observadores engajados mal disfarçavam sua alegria diante da queda das torres e do Pentágono em chamas, aqueles mais atentos e mais profundos sabiam que algo de muito grave havia ocorrido. O mundo jamais seria o mesmo. E não seria mesmo, pois o que agora vemos ocorrer no Iraque é o início da nova ordem mundial.

A França liderou um grupo de países importantes que se opôs à guerra, ao qual se juntaram Alemanha, Rússia e China, além de mais de uma centena de países menos proeminentes. A guerra aconteceu assim mesmo. Bom lembrar que França, China e Rússia possuem poder de veto no Conselho de segurança da ONU onde só os Estados Unidos e a Inglaterra possuem acentos adicionais, logo os que se opunham eram maioria, mas a guerra aconteceu assim mesmo.

Com o desfecho da guerra definido, a França, de novo, lidera o grupo que exige papel de liderança para a ONU na reconstrução do Iraque, mas o simples fato de estar encaminhado a exigência à potência única que, no momento, tem seus tanques ocupando o território iraquiano fala por si.

Dizem que os EEUU vão destruir a ONU e com isso só têm a perder, mas os EEUU já jogaram o protocolo de Kyoto no lixo, ignoraram a criação do Tribunal Penal Internacional e não perderam nada com isso.

Dizem que os iraquianos não vão se submeter, que vão infernizar a vida de qualquer governo que tio Sam instalar por lá, mas a cena dos soldados fugindo desesperados pelas margens do Tigre e logo após em trajes civis comemorando a queda de Saddam também fala por si.

O Egito poderia ter negado passagem à frota americana que se deslocou do mar Mediterrâneo para o Golfo Pérsico, de onde disparou incessantemente mísseis contra Bagdá. Era o que o povo egípcio queria que seu governo fizesse, mas o governo não fez. Porque?

O povo turco foi mais convincente, e evitou que seu governo cedesse o território do país para a passagem das divisões da coalizão que criariam a frente norte de batalha. Hoje os líderes turcos lamentam profundamente, pois tal recusa não mudou um milímetro o curso da guerra e a combalida economia do país deixou de receber 25 bilhões de dólares que seria o pagamento pela cortesia. Mais ainda, hoje o governo e o povo turco temem que tio Sam, livre de constrangimentos criem o Estado Curdo que eles tanto temem. Valeu a pena a bravata ?

É o que se pergunta hoje na Síria, que liberou seu território para a fuga de alguns líderes iraquianos e ajudou com armas os soldados de Saddam e foi publicamente ameaçada pelo secretário de defesa dos EEUU e pelo general Powell de ter o mesmo destino do Iraque. Vale a pena?

O mundo unipolar está dando sua cara à mostra de maneira a não deixar dúvida de que a potência única, ferida na alma pelo 11 de setembro, resolveu assumir seu papel único. Um papel que para o bem de todos deveria ser agora discutido seriamente sob pena de regredirmos à idade média em termos políticos.

Em primeiro lugar é preciso reconhecer que a potência única é única e que nenhum país, nenhum organismo internacional, nenhuma coalizão liderada pela França, ou por esta mais China e Rússia, pode se opor de verdade ao novo império. O mundo será, doravante, o que os EEUU quiserem que seja. Pensar diferente é inútil.

Nesse mundo novo com um império dominante, organismos como a ONU, a OMC e assemelhados terão que se adaptar à liderança da potência única ou desaparecer, para não passar vergonha como o Conselho de Segurança neste momento. Que graça tem possuir poder de veto num Conselho que não manda nada no mundo real ?

Melhor seria, verificar com frieza, que o império possui virtudes. Muitas, diga-se, e que essas virtudes incluem uma democracia interna inegável, onde o poder da opinião pública pesa como em nenhum outro lugar do planeta. Há liberdade individual (embora um pouco menos depois do 11 de setembro) e ampla cooperação interna. Os imigrantes de todos os lados do mundo contam-se aos milhões o que atesta diversidade cultural e tolerância com minorias (também menos depois do 11 de setembro). São tantas as virtudes, que não se pode correr o risco de permitir que um antiamericanismo espraiado pelo mundo, entregue definitivamente (por reação natural) o poder do império aos falcões. Seria um erro incontornável, e, cabe ao mundo evitá-lo.

Diz a sabedoria militar que alguém rodeado de amigos por todos os lados perecerá diante do primeiro inimigo que aparecer. A mesma sabedoria atesta: Dê-me um bom inimigo para enfrentar e serei forte, dê-me vários e serei imbatível. O que os falcões mais desejam são inimigos por todos os lados. Não se lhes deve dá-los!

É preciso entender a cultura de tio Sam e aceitá-la como a cultura que vai dominar as relações nacionais e internacionais neste novo mundo que nasce. Assim como a cultura ocidental dominou metade do planeta, o american way of life como estrato vencedor dentro do espectro ocidental influencia o dia a dia, a vida familiar e cultural de pessoas em todo o planeta. O Japão será sempre o Japão com sua cultura milenar, mas como negar que o Japão é ocidentalizado e americanizado? O Catar e os emirados são ricos ocidentalizados e americanizados apesar de Islâmicos. Como será o Iraque daqui a cinqüenta anos? Turquia e Brasil são países soberanos e amigos dos EEUU, mas com a cunha do FMI a ditar os rumos de suas economias já há anos, e com a influência absoluta de tio Sam sobre esse organismo, qual a independência efetiva que tais países desfrutam ?

Com tamanho poder não é justo que apenas uns poucos gatos pingados decidam o rumo do império. Mais correto seria poder influir nas decisões do império. Os organismos internacionais não são um bom local para isso pelo simples motivo de que o império está sub-representado neles. Não os respeita porque sabe que as outras nações, mesmo as mais amigas, usam a desproporcionalidade de representação para simplesmente contrariar os interesses do império. Foi assim com Kyoto, com o Tribunal Penal Internacional e agora com o CS na guerra do Iraque.

Já que o mundo que aparece é absolutamente novo, temos que estudar novas formas institucionais de organizar a política mundial.

Quando a Republica dos EEUU completaram 200 anos a mídia inglesa, por brincadeira, estampou em manchetes que a Inglaterra ficaria orgulhosa de ser o 54º Estado americano. Acho que se fosse verdade ficariam muito melhor do que atualmente com seu assento no Conselho de Segurança na ONU. Como Estado do império teriam um bom número de deputados e três senadores onde o poder, não é simbólico e conta de fato.

Na situação atual o resto do mundo fica numa posição muito desconfortável, pois sofre as conseqüências de qualquer espirro imperial, mas não apita nada na hora de influenciar as decisões do mesmo. Queremos votar nas eleições para presidente do império! Essa sim seria uma boa chamada para manifestantes nas praças do mundo todo.

É um mundo absolutamente novo ou não é ?


 
 
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